Só a suspensão do julgamento de um céptico permite sustentar a continuação de um debate inexistente e evitar que a alternativa seja entre Ícaro e Sísifo

Sextus respeita imenso a mente humana porque sabe que não a poderá recrear ou como extensão deste pensamento, qualquer pirrónico que se preze respeita imenso a vida porque também se sabe incapaz de a iniciar. Declarada a humildade e a sua variante pirrónica a suspensão de julgamento, a mente humana é um imenso alforge de surpresas, insuficiências, contradições e ironias.
A abordagem ao desastre financeiro e económico de parte do ocidente está completamente imbuída por perplexidades e contradições, parece mais uma conversa de café entre dois conhecedores que se encontram em modo paradoxal.
A componente afectiva da mente, a que domina sem rival, tem carregado o debate para a divisão economia mais estatal ou economia mais privada. Este debate é na sua essência falso quando nos restringimos a este hemisfério onde a empresa estado é directamente responsável por pelo menos um terço do produto mas ultrapassa claramente a metade se incorporarmos os efeitos indirectos – por exemplo, as chamadas PPP não passam realmente de dependências da empresa governo e muitas das entidades que são consideradas privadas realizam a maior parte da sua actividade na dependência da empresa governo. Há depois exemplos apimentados noutros países, especialmente quando o sector da produção do armamento é escrutinado de forma séria, revelando a extensão do tentáculo da empresa governo nas que são vistas como privadas.
No campo restrito dos economistas o diálogo também é estranho para um céptico, trata-se essencialmente de duas claques. A clássica que afirma acreditar no quarteto Smith, Ricardo, Schumpeter e Hayek vive no mundo do desejo, infelizmente sem se aperceber que levar a sério este quarteto é no mínimo de uma irresponsabilidade á prova de bala. A teoria da sabedoria máxima dos mercados, das vantagens competitivas ou da destruição criativa têm sido tão provadas pela análise aprofundada como a existência do gato de Cheshire ou da rainha de copas. O tripé da teoria clássica, competição, informação e previsão existe no sonho de uma criança.
O outro grupo, keinesiano e afins apresenta uma abordagem cheia de insuficiências mas que essencialmente não toma em conta inversões da dinâmica demográfica ou deslocação súbita de poder económico e produtivo.
Do que se tem tratado realmente é de má gestão, isto numa época em que o número de gestores nunca antes tinha sido igualado. A má gestão é sempre potenciada quanda administra recursos que só longiquamente são seus. Esta má gestão, cujo maior exemplo se encontra na aplicação de fundos pelos bancos (isto a nível geral) e também pelos políticos, no que respeita particularmente os países latinos é agravada por dois factores determinantes.
Um é a globalização com a exposição de dissemelhantes a competir, o outro foi a progressiva apropriação das rendas pelo mundo financeiro, que no início eram propriedade dos terra-tenentes, depois passou para o domínio dos empresários, mais tarde para os empregados mais qualificados e finalmente para o binómio empresa governo – mundo financeiro. Esta última aliança tem sido global e estava inscrita na natureza dos dois, o titular do lançamento dos impostos iria acasalar com o mundo financeiro. Nunca haverá capital suficiente para a produção se as regras actuais do mundo financeiro persistir, algo que tem o potencial de gerar uma crise realmente muito séria.
Neste momento incerto causa dó ouvir as tíbias propostas dos gestores da empresa-governo. O refúgio na inovação é absolutamente iluminante – nunca a inovação foi maior que nos últimos trinta anos, nunca o crescimento do mundo foi menos vigoroso (excepção dos ditos países emergentes que progrediram não por inovação mas por emulação do vizinho mais ou menos distante, sendo que basta estudar o caso da Coreia para se perceber o erro estrutural de A Smith). Neste contexto, a abertura do comércio em Madrid durante 24 horas numa Espanha falida, tal como o seu vizinho do ocaso chega a ser dolorosa.
A declaração da avaliação sobre o ME pelo FMI hoje à tarde pertence ao mesmo contexto – não percebem o que se está a passar e voltam a insistir na TSU, legislação do trabalho, etc. Que tristeza de análise, parece que ainda não compreenderam nada do que realmente faz falta a este país há séculos. 
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